domingo, 23 de dezembro de 2012

O texto não ouvido quiçá lido


Fazer uma saudação aos alunos do 3º 01 e 02 é bastante complicado visto ser duas turmas muito heterogêneas, muito diferentes entre si, mas antes de estender minha saudação aos alunos que são os mais interessados e o motivo desse evento, o protocolo diz que devo estender minha saudação a mesa de autoridades, assim sendo saudando o diretor Waldemar, estendo a saudação a todos os componentes da mesa.
Uma saudação bastante calorosa e afetiva aos pais que depois dos alunos na ordem seriam para quem essa formatura mais tem sentido.
Caros pais e alunos peço-lhes um momento de sua atenção, pois o que direi agora é muito importante e tem haver com a educação de seus filhos.
Antes de iniciar propriamente dito minha fala gostaria de ler na integra para todos os presentes um recorte de uma conversa que rolou no face book nestes dias que antecederam essa solenidade que claro já foi devidamente apagada mas que foi salva e impressa e agora relato para todos, para conservar os nomes vou chamar os alunos envolvidos de ciclana, beltrana, e fulana, diz o seguinte:

Detalhe duas das nominadas ciclana e beltrana ainda ontem juraram que amavam a escola Euclides da Cunha.  
Poderia abrir minha fala contestando ou até abordando o pronunciamento da Fabia, quando fala dos merdas. Os pais e convidados presentes aqui não sabem o contexto do acontecido, se a curiosidade for muita pergunte a seus filhos ou então mais tarde pergunte a mim e com certeza lhes explicaremos, se não ficar claro em minha fala.
A minha abordagem não será sobre esse episódio, mas sim será sobre o que me levou a num momento de ira tomar a atitude que tomei e falar o que falei, não foi um fato isolado, foi uma constante durante o ano. Na verdade essa situação tem muito haver com o tipo de educação erudita, de banco de escola que defendo e acredito. E que sempre foi pautada no direito a ter direitos, lembrando que para cada direito precede um ou mais deveres. Sempre defendi o direito de os alunos terem voz e vez, e sempre dei voz e vez a eles em sala de aula. E caros pais em muitos momentos ao longo dos últimos anos seus filhos foram aviltados, roubados, lesados nesse direito. O de ter uma educação de qualidade.
O que prova isso? É só verificar o grau de elaboração de muitos desses alunos nas provas propostas, a baixa procura por concursos como o Enem, vestibulares locais, olimpíadas de matemática e português. Se existe baixa procura é por que não se viram tão animados a cursar esse ou aquele curso técnico ou superior. E a culpa é de quem? De nossos alunos e seus filhos? Como essa pergunta vai nortear toda uma discussão e manifestações a respeito do assunto educação eu pergunto de novo: E a culpa é de quem? De nossos alunos e seus filhos?
Lhes garanto que não apenas deles ou de vocês.
Pode parecer que sou um professor colocando panos quentes em duas turmas que não renderam o que deveriam render. Mas não é isso que pretendo.
Mas a grande culpa reside num sistema de educação falido, num sistema que não funciona onde há alunos que fazem de conta que aprendem por que há professores que fazem de conta que ensinam e como nem a instituição Euclides da Cunha, nem estado de Santa Catarina, verifica os motivos pois não tem instrumentos eficazes para verificar o nível de aprendizagem, nem levam em consideração os parcos dados de que dispõe, tampouco estabelecem medidas de intervenção para resolver os problemas que ai estão, nada se avalia e tudo continua como está. E como está não dá pra ficar. Por exemplo sabemos ou temos dados suficientes sobre o desempenho de nossos alunos no Enem, que seria a avaliação que deveria balizar nossas atitudes em sala de aula? Onde estão esses dados? Quem dispõe desses dados? Se o estado de Santa Catarina não utiliza esses dados estão certos vocês alunos de não desperdiçar seu tempo perdendo duas tardes para fazer a prova do Enem. É muito estranho que seja despendido verba, toda uma organização com eixos norteadores com competências e habilidades e as mesmas não sejam as balizadoras de nossa educação em sala de aula, eu não me lembro de um momento em que nos últimos 8 anos nossos professores tenham tido um curso, ou uma parada para falar de dados, estatísticas, para a melhoria do ensino, se acontece algum ensino se deve a fazer pedagógico isolado de cada professor. Não paramos ao longo desse ano para pensar pedagogicamente. Vergonhosamente não paramos para pensar. Mas como chegamos a isso?
Na minha modesta visão (as vezes alguns acham que ela é um tanto turva) então na minha turva visão vejo a falta da presença dos pais na vida escolar dos filhos como um desses motivos, pois como se diz por aí o sistema capitalista que nos engole exige que pai e mãe trabalhem deixando os filhos diante de uma babá eletrônica que faz nossos filhos amadurecerem sexualmente mais cedo assim quando eles chegam a escola pensam em tudo menos em estudar. São culpados os pais quando deixam seus filhos até altas horas no face e nem sabem com quem estão falando ou o que estão falando, ou ainda as barbaridades que estão falando, depreciando a escola que durante 3, 8 ou 11 anos o acolheu.
São culpados os próprios alunos quando não acreditam em si mesmos nem investem em si próprios. Se você não acredita em você ninguém vai te dar crédito. É culpado você por não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, no face book, estava atualizando o face. Muitas vezes ainda pais comparecem a escola e justificam que esses alunos de hoje são assim por que recebem muito estímulo nesse mundo digital. E não sabem os pais que estão fazendo comentários como esse que acabei de relatar aos senhores, ou quem sabe os pais sabem? Rememorando. O que tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. E as vezes as vendem na porta da escola, que alguns chamam de lixo, então para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir aos piqueniques, subir em árvores? E, nas aulas, havia respeito, amor pela Pátria, amor pela escola, repito amor pela escola.. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, e sabíamos escrever e sabíamos fazer contas com fluência. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série ou para a série seguinte. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. Que claro que era excludente, mas que funcionava a isso funcionava, até por que ele impunha na professora da série anterior a necessidade de ver seus alunos aprovados. Ah nós não tínhamos o paternalismo de hoje, não ganhávamos livro ou uniforme de graça tínhamos de comprar, não tínhamos transporte custeado andávamos a pé ou de bicicleta, não tínhamos merenda de graça, nós plantávamos a horta e a comunidade se organizava para garanti-la quando não a levávamos de casa. Logo não justifica não saber escrever, nem ler ou interpretar num mundo digitalizado, quanto mais ser deselegante ou mal educado com o professor ou a escola, então é imperativo se é que vocês entendem o que é isso, é imperativo que vocês se esforcem, pois a vida não vai dar as oportunidades que esses professores lhes deram. Os mesmos cunhados de preguiçosos.
Não podemos nos eximir, somos culpados nós os professores que trabalhamos em duas três ou até quatro escolas para dar conta de pagar o financiamento do carro que nos transporta apressados entre uma escola e outra correndo o risco de sofrer um acidente de trabalho; e por isso as vezes entramos em sala despreparados e fazemos de conta que ensinamos, sendo assim não cobramos o que devíamos; Além disso somos obrigados a elaborar atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração; é engraçado que todos os profissionais têm direito a um intervalo de quinze a vinte quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho, e ainda temos de cuidar recreio, o famoso recreio monitorado. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um vale coxinha. E a saúde? É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas. Plano de saúde?    Muito precário, não tem médicos que atenda ao plano de saúde proposto pelo desgoverno que está ai. Passando por tudo isso há de se pensar, então, que somos bem remunerados... Mera ilusão! E os diários? Em plena ara da informação ainda preenchemos diários a mão. Claro com os equipamentos de informática que temos que parecem uma carroça comparado a uma Ferrari é melhor continuar a preencher a mão mesmo. Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance pra cair fora. Pelo que parece todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que nos esforcemos em ministrar boas aulas, ainda ouvimos alunos nos chamar de “vaca”, “puta”, “filha da p...”, “gordos”, “velhos”, “vai tomar naquele lugar”, “idiota” entre outras coisas. Como isso é motivante...e temos ainda que ter forças para motivar, fazer pensar. Não podemos em nenhum momento nos indignarmos e chamar alguém de merda. Abrindo um parêntese aqui cabe um questionamento que já fiz em sala de aula com inúmeras turmas: - Qual a função do professor? Ensinar? Transmitir conhecimento? Repassar informações? Tudo isso os alunos encontram nas mídias eletrônicas atuais. Tem aulas inteiras no youtube. Se buscar no Power point com extensão ppt, tem o assunto que você quiser. Então qual a função do professor? Na minha turva visão nossa função enquanto educadores e propiciar o questionamento. Se eu enquanto professor não propiciar o questionamento ao meu aluno então apenas fiz de conta que ensinei, fecha parêntese.
São culpados os professores quando são uma classe desunida e não conversam de forma pedagógica, fala-se de tudo na sala dos professores menos de educação. Fechamos inclusive a porta, pois não suportamos o barulho que os alunos fazem. E vale dizer nesse momento que escola sem movimento e barulho não é escola. Somos culpados quando não temos a coragem de lutar pelos nossos direitos mostrando aos alunos que devemos baixar a cabeça diante de um patrão algoz como sempre foram nossos desgovernadores ao longo dos últimos anos. Chega de salário baixo, todas as profissões e pessoas passam por professores, deveria ser a carreira mais bem paga do país, deveria ser uma carreira respeitada, e não é isso que vemos, afinal os deputados que ganham 67% de aumento tiveram professores, até mesmo os "alfabetizados funcionais". Pelo amor de Deus somos uma classe com força!!!
É culpada a direção e a gerencia de educação de Jaraguá do Sul, pois são os legítimos representantes de um desgoverno que já contabilizou greves nos setores da saúde, segurança pública e educação, e se utilizando da imprensa marrom colocam a sociedade contra esses profissionais mal pagos e que cuidam de três setores de enorme importância para os cidadãos. Portanto o grande culpado desse sistema falido é esse desgoverno. Que tal vocês pais ficarem sem médicos, sem proteção e sem professores para seus filhos?  As escolas estão desabando por pura falta de manutenção, e  problemas assim não acontecem de um ano para o outro são fruto de anos e anos de descaso. O desgoverno deixa de cumprir as suas obrigações com a educação e a segurança das crianças, jovens e trabalhadores do setor,  que são obrigados a conviver em ambientes extremamente precários, correndo riscos diários, e  a justificativa é culpar a valorização dos profissionais que há décadas lutam por melhores condições de trabalho, dizendo: nos vimos obrigados a desviar verbas da manutenção das escolar para pagar o salário dos professores, mentira deslavada, é só verificar a situação da escola Lauro Zimmermann em Guaramirim ou a escola que desabou na Palhoça. No Euclides da Cunha pela primeira vez tivemos a cota de fotocópias limitadas nesse último bimestre, por pouco não ficamos impedidos da impressão dos exames finais, quanto a questão estrutural da escola poderíamos falar de inúmeros problemas que nesse desgoverno nos faltou. Temos uma internet que é mais lenta que as antigas internet discadas, e os computadores são obsoletos, defasados, antigos.
Biblioteca é a alma de uma escola, é nós no Euclides da Cunha não temos uma, temos um antigo corredor que agora é um deposito de livros. Como queremos melhor desempenho em português e disciplinas afins se não investimos em leitura, se nossos alunos não tem um espaço agradável e prazeroso que convide a leitura? Será que esse desgoverno não investe por que quer apenas uma escola pobre para pobres?
Não dá para aceitar essas situações. E quando eu enquanto professor reclamo e incito os alunos a também exigirem seus direitos sou diagnosticado com transtorno bipolar pela direção. E aguardem para o ano que vem reclamações de forma organizada pela entidade de classe que é a Grêmio Estudantil, junto a direção, junto a gerência de educação e junto a prefeitura. Vamos fazer valer os direitos que temos enquanto cidadão. Continuarei sim incitando os alunos a reclamarem seus direitos.
Portanto senhores pais seus filhos são na verdade vitimas desse sistema, por isso metem os pés pelas mão e falam asneiras como as aqui relatadas, vitimas de um sistema montado e mantido a custa de cargos por indicação política, um sistema que não funciona para não formar pensadores e críticos, mas sim operários que simplesmente executem tarefas. Talvez agora alguns entendam as falas que sobre formar apenas peões. Um sistema que forma alunos que tem nojo e raiva de política e por isso serão governados por aqueles que adoram fazer política para poucos. Pois parece que o governador estão tão longe, e quando na verdade ele nos atinge diretamente com seus desmandos. Portanto não podemos ter nojo de política. Aqui cabe portanto um apelo cobrem da Secretaria Regional, na pessoa ausente de seu Lio Tirone, da Gerência de Educação, na pessoa da Dona Lorita, cobrem dos políticos eleitos qual a postura deles com relação a todos esses problemas relacionados com a educação. Pois eu sempre cobrei e vou cobrar, assim caro colega de profissão agora vereador Arlindo, eleito pelo PP, político a nível local, mas é bom lembrar que o PP é base do desgoverno de Raimundo Colombo na Alesc, sei dos anseios que tem o Arlindo, sei que vem imbuído de boas intenções, sei que não vai abandonar a base que o elegeu e que foi a massa jovem; jovens cobrem dele, cobrem o posicionamento dele quanto as questões da educação para a escola Euclides da Cunha, a mesma que alguns acham um lixo, cobrem postura para com a escola do Ribeirão Cavalo, para as comunidades locais, precisamos de caras novas como o Arlindo, precisamos de renovação. Mesmo não militando num mesmo partido, como já o fizemos no passado, temos um partido em comum a educação libertadora e democrática. Acredito que nossa vigilância enquanto sociedade organizada fará valer nossos direitos.
Finalizando minha fala, mas não a discussão a respeito da educação. Educação que ainda acredito e ainda acredito em muitos de vocês caros alunos, quero pedir desculpas aos pais pelo tempo tomado, gostaria de pedir desculpas aos alunos por nem sempre falar aquilo que vocês gostariam de escutar, aos colegas de profissão uma mera sugestão, precisamos nos unir, a direção e representantes da Gerência de Educação, a esperança de ainda estarmos no mesmo barco a busca de uma educação de qualidade. As autoridades constituídas e eleitas o pedido de luta por uma educação libertadora e democratizada.